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terça-feira, 27 de outubro de 2009

ORGULHO DE SER NEGRO

TEMA:
Identidade e ideologia

TÍTULO:
POESIAS: uma análise dos discursos identitários e ideológicos nas obras poéticas dos alunos de 5ª série da Escola Antonio Marculino Vieira procedentes da comunidade de Lagoa de Gaudêncio.

PROBLEMA DE PESQUISA:
Será que os alunos de 5ª série “A” do ano de 2007 da Escola Antonio Marculino Vieira procedentes da comunidade de Lagoa de Gaudêncio expressam em seus textos escritos discursos identitários e ideológicos?

HIPÓTESES:

 A produção de textos escritos tem sido um grande desafio para alunos de 5ª série, sobretudo, os de escolas públicas, todavia, se percebe que ao produzir, tais alunos deixam nos seus textos marcas de identidade e de ideologia;
 Nenhum texto é ingênuo, mesmo os de alunos de 5ª série;
 O meio influencia na formação identitária do indivíduo, sendo assim, a produção oral precede à escrita;
 Uma identidade pode ser construída ainda nos discursos orais. Entende-se por tanto, que quando alguém produz um texto, seja ele verbal ou não-verbal, a intertextualidade estará presente no mesmo, ou seja, o indivíduo forma os seus discursos a partir de outros já existentes.

OBJETIVO GERAL:
Identificar discursos identitários e ideológicos nas obras poéticas dos alunos de 5ª série da escola Antonio Marculino Vieira procedentes da comunidade de Lagoa de Gaudêncio.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
 Apresentar os conceitos dos termos identidade e ideologia;
 Conhecer as características culturais da comunidade de Lagoa do Gaudêncio;
 Identificar as marcas ideológicas dos alunos-autores da obra: “Orgulho de ser negro”
JUSTIFICATIVA:

Os discursos identitários e ideológicos podem ser analisados em obras literárias, mesmo que estas sejam produzidas por alunos de 11 a 12 anos que estejam cursando a 5ª série do ensino fundamental. Pois o conceito de identidade esta relacionado a um conceito de referenciação, de circunscrição da realidade a quadros de referência, quadros estes que podem ser imaginários. Ao considerar relevante que os alunos e alunas conheçam casos, contos, lendas e histórias (cultura informal) que povoam o folclore da sua comunidade, faz-se necessário uma busca pela quebra de estereótipos construídos sobre alunos de escolas públicas, principalmente, quando se observa discursos do tipo “estes alunos não sabem nada...”, “estes alunos não querem nada...”, “alunos de escolas públicas apresentam deficiência quanto à aprendizagem” e outros. Será que os alunos de escolas públicas não conseguem expressar, numa linguagem poética, discursos identitários e ideológicos nos seus textos verbais? A pretensão deste projeto de pesquisa é observar isto.
É justificável que conhecendo as memórias de um povo, pode-se conhecer também a identidade cultural dos sujeitos envolvidos no processo de formação de uma comunidade, pois a identidade diz respeito ao reconhecimento. E, ao reconhecer as comunidades das quais estes alunos são oriundos, pressupõe-se logo, um processo de identificação de um sujeito plural. Visto a identidade como aquilo que faz passar da singularidade de diferentes maneiras de existir por um só e mesmo quadro de referência identificável. Passamos a entender que o reconhecimento de um ser resulta do cruzamento das várias formas desse em relação às pessoas e às estruturas que o cercam. (SILVA, 2008)
As subjetividades e as identidades estão intimamente relacionadas, pois as subjetividades compreendem aquilo que entendemos sobre nós mesmos e o “nós” é aquilo que dizem que somos. Com isso, acreditamos que os discursos presentes nas obras dos alunos da escola Marculino passam pelas subjetividades incorporadas no convívio social. Sendo estas, produto de uma linguagem que dá significado às suas experiências instituindo a elas uma determinada identidade. A identidade é algo dado ou atribuído.
Para compreendermos os discursos identitários e ideológicos nas obras literárias dos alunos, julgamos necessário conhecer o momento atual das discussões em torno de políticas afirmativas para afro-descendentes em nosso país. Recorremos, portanto, a uma abordagem do fenômeno da identidade do ponto de vista relacional, deslocando-o “do campo conceitual para o político: a identidade não é mais definida como um modo de ser cuja natureza profunda é preciso revelar, mas como um jogo simbólico no qual a eficácia depende do manejo competente de elementos culturais.” (MONTERO, 1997, 63)
O porquê de fazermos uma análise discursiva das obras literárias dos alunos da escola Antonio Marculino Vieira é enfatizada pela recorrências de elementos simbólicos trazidos ao corpo dos textos de tais alunos. Nos textos percebemos uma exaltação do “ser negro”. A palavra orgulho cujo significado é sentimento elevado da sua dignidade pessoal torna-se recorrente nestas obras. De certa forma, estes alunos podem até ter posto tais elementos em evidências sem nenhuma intenção de afirmação identitária, porém ao transpor-los de sua cultura, o sujeito afirma quem ele é, de onde ele vem e quais os seus valores culturais. Ao fazer alusão a esses elementos, fica explícito que um discurso identitário e ideológico foi construído ainda na oralidade.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Na concepção marxista, ideologia pode ser considerada como um instrumento de dominação que age através do convencimento (e não da força), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade. A criação deste termo ocorreu com Destutt de Tracy, cujo significado está relacionado à ciência das idéias, idéias essas que sustentam a vida social. Posteriormente, esta palavra ganharia um sentido pejorativo quando Napoleão chamou Destutt de Tracy e seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No entanto, os pensadores da antiguidade clássica e da Idade Média já entendiam ideologia como o conjunto de idéias e opiniões de uma sociedade.
Karl Marx, pensador alemão, desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia, na qual concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão do trabalho manual e intelectual. Nessa divisão, surgem os ideólogos ou intelectuais que passam através de idéias impostas a dominar através das relações de produção e das classes que esses criam na sociedade. Contudo a ideologia (falsa consciência) gera, inverte ou camufla a realidade para os ideais ou vontades da classe dominante. Repensar esta eposição
Para Bauman “A identidade é uma espécie de lar virtual ao qual nos é indispensável referirmos-nos para explicar um certo número de coisas, sem que jamais ele tenha existência real.”(BAUMAN, 2005: 55). O conceito de identidade se relaciona, assim, com a maneira com que os homens interagem com o mundo. Conjuga com essa idéia Antonio Ozaí da Silva quando diz que “identidade é definida pela relação do indivíduo na relação com outros indivíduos, isto é, cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio” (idem, 2008).
Stuart Hall em seu livro A Identidade Cultural Pós-Moderna distingue três concepções de identidade, a saber: a do sujeito iluminista, a do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno.


Para Gadotti, (2001, p. 33) ao discente “não se deve negar o acesso à cultura geral elaborada, trata-se de valorizar a cultura primeira de aluno incorporando-a no ensino-aprendizagem que se baseia em valores e crenças democráticas.” Neste sentido a produção de textos escritos, ainda que seja um dos grandes desafios para alunos de 5ª série, sobretudo, os de escolas públicas, se torna relevante. Uma vez que se percebe que ao produzir, tais alunos deixam nos seus textos marcas de identidade e de ideologia. É sobre isto que pretendemos pesquisar nos escritos destes alunos, pois acreditamos que nenhum texto é ingênuo, mesmo os de alunos de 5ª série.
Não se constrói um texto do nada. Na construção de um texto, três processos são observados: tecimento, tecido e tessitura. Sobre isso fala Milton Moura:
Um texto pode ser compreendido pelo menos em três dimensões. A primeira, de tecimento. O olhar que capta uma identidade desta, normalmente, deseja conhecer seu processo de construção. A segunda dimensão é de tecido. Costumamos realçar esta dimensão quando miramos uma identidade a partir de uma obra artística ou literária ou de um ensaio cientifico que ofereça uma versão de uma sociedade, grupo ou indivíduo. Podemos ainda perceber o texto na sua dimensão de contextura, tessitura. Esta concepção de identidade costuma conferir mais importância à estrutura do texto identitário. (Moura,2005)
O meio influencia na formação identitária do indivíduo, já que a produção escrita vem logo após a oral. A afirmação de uma identidade é construída ainda nos discursos orais. Entende-se por tanto, que quando alguém produz um texto, seja ele verbal ou não-verbal, a intertextualidade estará presente no mesmo, ou seja, o indivíduo forma os seus discursos a partir de outros já existentes. Conjuga desta idéia Moura ao dizer que “numa sociedade tribal ou mesmo em sociedades diferentes, os modelos de comportamentos são estritamente passados aos indivíduos pelos mais velhos.” (idem, 2005)
A identidade se manifesta nos relacionamentos, como forma de exteriorizar conceitos, virtude de indivíduos que moram em uma determinada sociedade. A identidade diz respeito ao reconhecimento. Podemos definir a identidade do indivíduo quando se observa os seus sentimentos, seus desejos, suas atitudes em determinados contextos, em suma, tudo o que diz respeito ao seu ego. É aqui que se define também “a singularidade – que é um conceito existencial – enquanto que a identidade - é um conceito de referenciarão, de circunscrição da realidade a quadros de referência, quadros estes que podem ser imaginários” (GUATARRI & ROLNIK, 1986: p.68) rever este autor
Quando alguém afirma, “sou fulano e estou aqui”, apenas está se identificando. A sua singularidade é muito mais complexa do que a afirmação “eu sou”; ela resulta do cruzamento das várias formas do seu SER em relação às pessoas e às estruturas que lhe cercam. “A identidade é aquilo que faz passar a singularidade de diferentes maneiras de existir por um só e mesmo quadro de referência identificável.” (id, pp. 68-69).
O ser humano é um ser complexo por natureza. Definir uma identidade pessoal é mais complexo ainda. Observa-se, portanto, a identidade cultural para se entender a singularidade do individuo, pois
é através dos grupos, ou seja, das relações sociais que cada indivíduo configura uma identidade pessoal, em toda sua complexidade. Uma busca de identidade é sempre um fenômeno social, uma constante transformação, uma metamorfose. Portanto, as identidades se relacionam dialeticamente com a sociedade, na medida em que se constituem a partir dela e são constituídas por ela. (SILVA, 2001).

METODOLOGIA DA PESQUISA
Faremos uma pesquisa documental a partir dos textos dos alunos da 5ª “A” do ano de 2007 da Escola Antonio Marculino Viera, essencialmente, contidos na coletânea de poesias “Orgulho de ser negro”, a fim de perceber se nestes textos há marcas de ideologia e de identidade negra;
Analisaremos também as características determinantes nos poemas dos alunos procedentes do povoado de Lagoa do Gaudêncio com objetivo de identificar se há ou não elementos simbólicos suficientes para que haja uma afirmação identitária negra;
Entrevistaremos os alunos-autores e outras pessoas da comunidade de Lagoa de Gaudêncio para coletar dados sobre as manifestações culturais desta localidade;
Buscaremos saber se existem documentos que comprovem se o povoado de Gaudêncio é realmente uma comunidade quilombola;











Referência__________________________________________________________________
GADOTTI, Moacir; ROMÃO, Jose. (Org.). Educação de jovens e adultos: teoria e prática. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2001.
SILVA, Antonio Ozaí da. Maurício Tragtenberg: Identidade e alteridade. Maringá: 2001. Disponível em http://www.urutagua.uem.br//ru18_mtrag.htm acesso em 21/03/09 às 19h58
GUATTARI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis. Vozes, 1986.
MOURA, Milton. Identidades. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.). Cultura e atualidade. Salvador: Edufba, 2005. p. 77-91.
CRUZ, Marcus. Identidade e historiografia na Alta Idade Média. Disponível em http://www.encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212970909_ARQUIVO_IdentidadeehistoriografianaAltaIdadeMedia.pdf acesso em 21/03/09 às18h.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva; Gracira Lopes Louro.5 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

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